Sabemos que o nosso estudo agrada a Deus, mas qual seria a melhor forma de estudar? Esta é uma pergunta muito difícil, mas grandes teólogos, ao longo da História, como Hugo de São Vítor, deixaram algumas dicas preciosas que podemos seguir.

1) Seja humilde

A humildade é uma virtude essencial para quem quer começar uma verdadeira vida de estudante, cujo objetivo é a caridade e a sabedoria. Segundo Hugo de São Vítor, a humildade é o princípio do aprendizado. Sem ela, o estudo só inchará o seu orgulho. Uma virtude é um bom hábito, ou seja, é algo que precisa ser praticado todos os dias para ser alcançado. O bom estudante deve ser humilde e manso, inteiramente alheio aos cuidados do mundo e às tentações dos prazeres. Consciente de que será preciso buscar a humildade para começar a trilhar o caminho da sabedoria, você terá Nosso Senhor Jesus Cristo como modelo perfeito na prática da humildade.

2) Oração

Antes de qualquer coisa que fazemos, convém que rezemos para pedir a Deus as graças que necessitamos para atingir um resultado que agrada ao Senhor. Assim também é com os estudos. Antes de iniciar os passos para um bom estudo, se recolha em silêncio, eleve o seu coração a Deus e Lhe dirija uma oração sincera, atenta e humilde.

3) Ouvir os ensinamentos

Ouvir o que o outro quer nos ensinar parece uma tarefa fácil, mas nem sempre isto acontece. Algumas vezes nos distraímos com muita facilidade ou “ouvimos apenas por ouvir”, sem nos esforçarmos para compreender o que se fala. Quando um ensinamento lhe está sendo apresentado, coloque toda a sua atenção para entender o assunto.

4) Disciplina

Contemple toda a ordem do universo. Veja como tudo funciona ordenadamente de tal forma a possibilitar a nossa existência. Isto tudo ocorre porque Deus governa todas as coisas através de regras e leis que Ele mesmo estabeleceu. Imagine o universo sem regras. Imagine se, de repente, o planeta Júpiter resolvesse “passear” perto do nosso planeta Terra. Que grande desastre! Imagine se cada um seguisse sua própria lei no trânsito. Quantos acidentes! O mundo e o homem necessitam de regras, leis e muita disciplina para viver de forma ordenada. Organize junto com seus pais uma boa rotina e a contemple com disciplina; tenha horário para sua oração, estudo, alimentação, esportes, etc. Com o esforço diário aparecerão os frutos!

5) Leitura

A leitura é um passo fundamental para o bom estudo. Leia atentamente, buscando compreender bem o que o texto quer lhe ensinar. Busque o significado das palavras que lhe são desconhecidas em um bom dicionário. Quando o texto for fácil, não o leia correndo de tal modo que se possa perder informações essenciais. Quando for difícil, não desanime diante dos obstáculos. Sabemos que é muito reconfortante entender um texto complexo. Peça ajuda do Espírito Santo, fonte da inteligência. Porém, tome cuidado com alguns tipos de textos que “caem” em nossas mãos, pois o demônio muitas vezes nos ataca através de más leituras.

Certa vez Dom Bosco teve um sonho no qual via um navio que representava a Igreja sendo atacado por inimigos furiosos e, para nossa surpresa, uma das armas de ataque eram livros incendiados que eram lançados sobre a barca de São Pedro. Vejam que sonho impressionante e cheio de lições para nós!

São Jerônimo dedicava horas e horas de seus dias lendo, estudando e até decorando livros de clássicos latinos (Cícero, Virgílio, Horácio, Tácito) e ainda encontrava disposição para conhecer autores clássicos gregos. Tal era seu entusiasmo e admiração pelos escritores clássicos que logo formou uma biblioteca só com obras deles, chegando até a copiar a mão vários desses livros.

Um dia Jerônimo estava em oração e teve uma visão de seu julgamento. O próprio Nosso Senhor Jesus Cristo presidia o Tribunal e perguntava sobre seu estado de alma e sua fé:

– Sou cristão, responde Jerônimo.

Ao que o Juiz lhe replicou com severidade:

– Mentira! Tu não és cristão, mas ciceroniano…

Isso seria o mesmo que dizer: “Não és de Cristo, és de Cícero.”

O Juiz mandou que ele fosse açoitado. Os assistentes pediram clemência argumentando que ele ainda era jovem e poderia corrigir-se, arrepender-se e salvar-se. Diante do que lhe acontecia, Jerônimo reconheceu o estado de alma em que se encontrava e tomou a única atitude que lhe seria conveniente: reconheceu seu erro e pediu perdão. Naquele instante, ele fez o firme propósito de emendar-se:

“Desde aquela hora eu me entreguei com tanta diligência e atenção a ler as coisas divinas, como jamais havia tido nas humanas”, (carta de São Jerônimo a Santa Eustáquia).

Formados pelo exemplo dos santos e movidos pela busca de santidade de vida, sugerimos ainda dois passos importantes após a leitura: o resumo e a memorização.

Um resumo consiste em descrever as principais informações contidas no texto lido de forma que fique somente o essencial. Se você não foi capaz de resumir o texto, pode significar que não entendeu o mesmo. Depois de resumir as principais ideias do texto, é necessário que você as memorize de tal modo que fiquem guardadas em sua memória. Certamente é difícil memorizar todas as informações de um texto, mas o que se pede é que se retenha somente as principais, pois a memória existe para guardar em nosso interior aquilo que se aprendeu. Este passo é fundamental para chegar ao próximo.

6) Meditação

Se a leitura é o início, a meditação é o término do processo, ou seja, através da leitura extraímos do texto suas principais informações; já através da meditação buscamos a causa, a origem, a utilidade e a finalidade de cada coisa. Hugo de São Vítor disse que o princípio da doutrina está na leitura, e, sua consumação, na meditação. Esta é uma espécie de admiração das coisas estudadas, buscando dissipar tudo o que é obscuro no que se estudou. Para meditar sobre algo é necessário conduzir o seu pensamento na direção de uma ideia e se esforçar para explicar as coisas que ainda não são claras. Depois disso virá a contemplação.

7) Contemplação

A diferença entre a meditação e a contemplação está na “claridade” daquilo que se pensa, isto é, na meditação buscamos explicar ideias que ainda não são claras, já na contemplação o que pensamos já está claro, mas deve ser admirado. Outra diferença entre esses dois passos do estudo é que a meditação se ocupa de uma única coisa, já a contemplação reflete sobre muitas.

Para ficar mais claro todos esses passos vamos dar um exemplo:

Imagine um quebra-cabeça cuja imagem não lhe é conhecida. Primeiramente, você deverá conhecer as peças do jogo, virando-as de tal forma que apareçam as suas formas e cores (leitura). Depois você deverá reunir as peças que se assemelham e separá-las em blocos (resumo e a memorização). Após separar, você deve tentar reunir as peças, começando pelos blocos com as cores e formas semelhantes, esforçando-se para descobrir a imagem do quebra-cabeça (meditação). Quando as peças começarem a se encaixar, você começará a ter maior noção do que se trata o jogo, e, depois de várias tentativas, com erros e acertos, você descobrirá a belíssima imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, mas isso ainda não é a contemplação. Somente depois de terminar de encaixar todas as peças, após muito esforço, você poderá olhar para aquela pintura feita por mãos celestes, com riqueza de formas e cores, símbolos e significados, fitar aquela Mulher vestida de Sol com a Lua debaixo de seus pés e se deleitar de tal modo que seu coração se elevará até a Virgem, como se ela estivesse em pessoa ali, naquele simples quebra-cabeça, e lhe dirigirá uma belíssima oração de agradecimento pelo seu sim, que nos trouxe o Salvador! Isto é contemplação. Mas ainda não acabou.

8) Ensinar

Ainda resta este último e não menos importante passo. Após percorrer esse longo trajeto proposto de Leitura, Resumo, Memorização, Meditação e Contemplação, você precisará ensinar alguém aquilo que o estudo lhe proporcionou, recordando que Santo Agostinho nos ensinou que edificar os outros por caridade é o motivo pelo qual se deve estudar. Para ensinar, você deve trilhar “o caminho das pedras” e, somente assim, poderá orientar outros sobre qual caminho tomar. Observe que você deve orientar e não carregar aquele que se ensina. É um grande desafio. Entretanto, se esse passo não for dado, de nada valeram os outros; e, se não se consegue ensinar, quer dizer que os passos anteriores não foram cumpridos.

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